sábado, 3 de novembro de 2012

E ai vamos ficar de Braços cruzados????


“Privatizar o Maracanã mostra cegueira histórica sem precedentes do Governo”, diz membro do Comitê Popular da Copa.

Seguindo a velha sanha privatizacionista dos governos neoliberais brasileiros, o atual governo perpetua a prática de gastar dinheiro público em grandes obras e, depois, transferi-las par o capital privado. Os custos são sociais; os lucros privados. Quando faremos diferente?

Edital de licitação apresentado na segunda-feira prevê demolição do Julio Delamare, Célio de Barros e Museu do Índio

Em 1983, Moraes Moreira expressou em versos a melancolia do rubro-negro com a transferência de Zico para a Udinese, da Itália, indagando “e agora, como é que eu fico nas tardes de domingo sem Zico no Maracanã?”. Se, cerca de trinta anos depois, um novo baiano surgisse para cantar a tristeza do torcedor carioca, bastaria perguntar “como é que eu fico sem o Maracanã?”.
Nesta segunda-feira, em entrevista coletiva concedida por Régis Fichtner, chefe da Casa Civil, e Márcia Lins, secretária de Esporte e Lazer, o Governo do Estado do Rio de Janeiro apresentou o edital de licitação do complexo esportivo do Maracanã.
Trocando em miúdos, o projeto prevê a concessão das dependências do estádio, que englobam o Maracanãzinho, parque aquático Julio Delamare e o estádio de atletismo Célio de Barros, à iniciativa privada pelos próximos 35 anos ao preço de R$ 7 milhões ao ano, que não cobriram nem 30% do valor investido na atual obra do estádio.
Procurado , o membro do Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas, coletivo criado para fiscalizar as obras com vistas aos grandes eventos esportivos que o país sediará, Gustavo Mehl classificou a privatização do estádio do Maracanã de “cegueira histórica sem precedentes”.
“A minuta do edital lançada ontem (segunda-feira) escancara a visão do Governo, que entende o Maracanã como um equipamento rentável, de consumo. Essa perspectiva é antagônica à da sociedade civil, que enxerga no estádio um bem sociocultural da cidade e do Brasil”.
Comparando a obra atual com a construção do estádio, em 1950, o jornalista integrante do Comitê Rio expôs as diferenças entre os projetos.
“Quando o estádio foi erguido, houve a preocupação em realizar uma divisão setorial proporcional à abrangência de classes sociais da cidade, possibilitando que todos fossem capazes de ir ao Maracanã acompanhar os jogos. Já este novo estádio que está sendo gestado visa atender somente os interesses econômicos dominantes e será frequentado basicamente pelas elites”, afirmou.

Julio Delamare e Célio de Barros
Durante a entrevista do dia 22, realizada no Palácio Guanabara, sede do Governo, Régis Fichtner ressaltou que a concessionária vencedora irá responsabilizar-se pelas obras, da ordem de R$ 400 milhões, de demolição do Julio Delamare e do Célio de Barros para erguer um museu do futebol, amplo estacionamento, bares e restaurantes. Os equipamentos esportivos seriam reconstruídos em área próxima que abriga atualmente um quartel do Exército.
Para viabilizar a derrubada das instalações, o prefeito Eduardo Paes assinou, na própria segunda-feira, decreto autorizando o destombamento das construções, que haviam recebido a honraria em 2002.
Quanto à previsão de reerguer o Julio Delamare e o Célio de Barros no entorno do Maracanã, Gustavo demonstrou-se cético. “Aos olhos do empresário que assumir o controle do complexo, será descabido investir nessas obras, pois a prática de esportes nesses espaços constitui-se como um projeto social, que não dá lucro”.
Mantido na área do complexo, o ginásio do Maracanãzinho, que passou por obras no valor de R$ 92 milhões antes dos Jogos Pan-Americanos de 2007, sofrerá reformas. A principal delas atenderá uma necessidade imposta pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), que exige a construção de duas quadras de aquecimento em instalações olímpicas.
Para que as quadras sejam erguidas, a escola municipal Arthur Friedenreich, que funciona no complexo, será retirada do local. O terreno que a instituição de ensino ocupará ainda não foi definido e ela segue com seu futuro incerto.

Comitê prepara ação
Para o lançamento oficial do edital de licitação, resta ainda uma última etapa. O Governo do Estado, cumprindo obrigatoriedade legal, convocou audiência pública para discutir o projeto apresentado.
Após confirmar a presença de integrantes do Comitê da Copa no evento, Gustavo Mehl mostrou preocupação com o andamento da audiência. “No processo de licitação das obras da Linha 4 do metrô, o Governo ignorou as opiniões dadas pelas associações de moradores. Esperamos que, desta vez, a atitude seja mais democrática, na forma de uma consulta real”, ressaltou.
Marcado para as 18h do dia 8 de novembro, a audiência pública acontecerá no Galpão da Cidadania, na Rua Barão de Tefé, 75, bairro da Saúde.

Museu do Índio
Fora da seara esportiva, o prédio que sediava o Museu do Índio também será demolido pela concessionária vencedora da licitação. A construção, datada de 1853, foi a primeira sede da instituição criada pelo sociólogo Darcy Ribeiro. Abandonado pelo poder público, o prédio é atualmente habitado por cerca de 20 indígenas.
Questionado sobre o destino da chamada Aldeia Maracanã, o governador Sérgio Cabral saiu-se com uma declaração no mínimo impensada. “Isso não é problema meu, cabe apenas à Funai (Fundação Nacional do Índio)”.
A polêmica sobre a derrubada do edifício, aliás, vem desde a semana passada. Em cerimônia realizada na quinta-feira, Sérgio Cabral afirmou que a retirada do prédio ia de encontro a uma exigência da Fifa. Porém, pouco depois, a entidade máxima do futebol veio a público externar que nunca pediu a demolição do antigo museu.
Corrigindo-se Cabral afirmou que a exigência era indireta, através da cobrança de maior mobilidade e capacidade de escoamento de público. Completando, o governador declarou que o local “não possui valor histórico” e está “no meio do caminho de uma concepção de segurança e conforto” para os futuros frequentadores do estádio.
Mobilizados, os índios, liderados por Carlos Tucano, estiveram presentes à Assembleia Legislativa (Alerj) em busca de apoio por parte de parlamentares e prometeram “não arredar o pé” do prédio. O recado do cacique, aliás, é o melhor exemplo a ser seguido por arquibaldos e geraldinos, atualmente alijados do seu Maracanã.