sexta-feira, 17 de março de 2017

50 Tons de Alice -Parte 2

No País das Maravilhas, Alice vive as suas aventuras e precisa decifrar vários enigmas de seu sonho e vai precisar da chave para abrir a pequena porta que simboliza a passagem do consciente para o inconsciente, que vai conduzi-la a construir a sua própria história, enquanto dorme.


Segundo Freud o inconsciente é atemporal, em qualquer idade nós perdemos e nos encontramos nele.
Alice demonstra a sua dificuldade em perceber quem ela é . Ela cresce e diminui de tamanho várias vezes, bebendo poções ou comendo bolo. E a falta de controle de seu corpo a deixa em crise.
Minha hipótese é de que Alice sofre problemas de auto-estima e que vai acarretar nos conflitos com a sua imagem. As várias transformações que ocorrem em seu corpo simbolizam a sua insegurança e a falta de aceitação de si própria. A saída que encontra é beber poções que possam resolver a sua “deformação corporal”.
Quantas Alices temos soltas vivendo a inconstância seu ser,que sofrem tentando se adequar a um padrão que não é o dela?


Alice 

No mundo louco de Alice, os animais convivem em condições de igualdade com os homens, onde tudo é possível e os acontecimentos são imprevisíveis, como os sonhos de Alice, vamos combinar que quase todas as Alicess são muito loucas.
Quando ela viu o Coelho Branco e o Rato ficou muito nervosa, as duas criaturas chagarem bem perto dela e arregalaram os olhos. Mas ela tomou coragem e foi em frente:
“A folhagem se agitava a seus pés quando o Coelho Branco passava correndo... o Rato, todo assustado, se debatia na lagoa ali perto... ela ouvia o ruído das xícaras de chá sabe-se lá de era, que a Lebre  muitoooo Aloprada e seus amigos tomavam juntos na sua refeição interminável, e a voz estridente da Rainha, condenando seus infelizes convidados à morte... uma vez mais o bebê-porco espirrava no colo da Duquesa, com os pratos e as travessas se arrebentando ao redor....


Coelho Branco

O Gato Risonho, um dos primeiros animais que Alice encontra simboliza a independência do inconsciente de nosso controle. O gato não obedece as nossas ordens e é indomável, eles nos escolhem nunca ao contrario. À noite ele nos ataca de surpresa com seu ronronar . O gato enxerga no escuro e seus olhos brilham com uma estranha luminosidade. Seus olhos são diferentes dos mansos olhos aveludados do cão. 


O Gato Risonho

Alice pergunta ao Gato Risonho:
_ Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?
_ Depende bastante de para onde quer ir, respondeu o Gato.
_ Não me importa muito para onde, disse Alice.
_ Então não importa que caminho tome, disse o Gato.
Nos contos de fadas, os animais auxiliares, se tratados com respeito e bondade ajudam a heroína. Também nos sonhos os animais podem ser de grande ajuda, se pararmos para conhecê-los, tenho paixão pelos meus. Que por vezes fizeram a travessia da dor comigo. 

A Lagarta aconselha Alice a lutar com uma espada que pertence à Rainha Branca e que foi roubada, ela deve matar o dragão.


A Lagarta

A Lagarta é um animal que se arrasta e simboliza a própria jornada de Alice que deve seguir em frente, com humildade para encontrar a sua natureza profunda e voltar a emergir como uma borboleta. O sonho indica que ela deva começar como a Lagarta, que se move para a frente e tendo os seus sonhos como guia.
A borboleta é símbolo universal do desenvolvimento e da mudança na natureza, símbolo do aspecto espiritual da vida que remonta aos tempos pré-históricos.
A Lagarta vai dar à ela vários conselhos, mas o Chapeleiro Louco, seu melhor amigo é quem vai lhe dizer a palavra mágica, ele diz que ela perdeu sua “grandiosidade”. Então, Alice percebe que sua vida é guiada por outras pessoas e não por ela mesma. E partir deste momento, ela assume as rédeas de seu destino muito louco e liberta de tudo e todos.

Chapeleiro Louco

O simbolismo do personagem do Chapeleiro Louco no sonho de Alice representa o mundo das idéias e do pensamento, tendo como metáfora o seu chapéu.
O chapéu, por cobrir a cabeça, tem em geral o significado do que ocupa a cabeça
O pensamento nada mais é que um substituto do desejo alucinatório e se o sonho é uma realização de desejos e loucuras, é este que põe o aparelho psíquico para funcionar e sonhar. O que um dia dominou o estado de vigília, quando a psique ainda era incompetente, parece agora ter sido banido para a noite, tal como as armas primitivas abandonadas pelo homem adulto, os arcos e flechas, são redescobertas no quarto de brinquedos. O sonho é um ressurgimento da psique 
Pensamentos e idéias permanecem ativos em nossa mente durante o sono, acordando a pessoa como os estímulos sensoriais.
Freud quem sabe nos conte como o sonho e o desejo funcionam, a partir da metáfora do dinheiro:
“O pensamento diurno pode perfeitamente desempenhar o papel de empresário do sonho; mas o empresário, a pessoa que dizem ter a ideia e a iniciativa para executá-la, não pode fazer nada sem o capital; precisa de um capitalista para arcar com o gasto, e o capitalista que fornece o desembolso psíquico para o sonho que é sempre, sem exceção, um desejo oriundo do inconsciente.
Creio que a psicologia possa  descrever  o ciclo dos sonhos e relaciona-os com a questão do desejo ou tesão, com o intuito de se estabelecer uma ponte entre passado, presente e futuro e acaba situando o ser humano, a sua essência como um ser desejante. Desejo este que se expressa utilizando a máquina neuronal, porém sem reduzir a ela.
Portanto, somente o desejo é capaz de ter força suficiente para impulsionar a psique e, desse modo, produzir sonhos.
Um desejo que cause conflito é afastado para as sombras do inconsciente, só que, este desejo vai procurar a sua expressão de qualquer maneira, se não for possível expressá-lo de forma consciente. O desejo vai aparecer no sonho e que foge à censura.
A Rainha de Copas sofre de uma deformação e sua cabeça é enorme e desproporcional ao seu corpo pequeno. No seu reino, somente as pessoas com deformações no corpo podem entrar. A Rainha, só tinha uma maneira de se livrar dos problemas fossem eles grandes ou não, sempre dizia: _ Cortem a cabeça dele!
no conto fica claro que o autor vinculou o comportamento das cartas de baralho com os personagens. Os soldados são paus, os cortesãos e membros da corte são do naipe de ouro.
Ele imaginou a Rainha de Copas como: “uma espécie de encarnação da paixão ingovernável, uma fúria cega e desnorteada, nossa tem tantas no mundo real. Suas constantes ordens de decapitação soam chocantes.

Rainha de Copas

A forma como os sonhos são interpretados é sempre em função do contexto de vida do sonhador e também como este sujeito vai associar as imagens de seu sonho com seu momento de vida. Não basta decifrar o sonho, porque também será necessário decodificar as emoções latentes contidas nestas imagens.
No caso de Alice, como ela sofre com o seu corpo porque sente que ele está “deformado”, a Rainha de Copas representa este seu estado psíquico.
A maioria dos desejos dos adultos, que são contrários aos seus padrões e são recalcados “no passado” e ele pode surgir novamente, no sono. Então aqui, Alice se “disfarça” de Rainha para poder enfrentar a sua “deformação”.
Outras vezes o disfarce se revela tão intensamente que quando aparece é apavorante. Estes disfarces são características dos sonhos manifestos da última infância e da vida adulta, segundo a teoria freudiana.
O grau de distorção do sonho vai depender da natureza do desejo e a severidade da censura. Quando a censura fracassa há o sonho de angústia, que é o pesadelo. A censura está ligada ao super-ego, não é boa nem ruim.
Quando se trata de desejos não vergonhosos, não recalcados, o disfarce é menor, não é exagerado. A estória se manifesta e o conteúdo latente se encontra muito mais próximo da realidade.
A minha hipótese é que o desejo de Alice seria de ter a beleza da Rainha Branca que vive à espera de um cavaleiro que possa salvar o seu reino da tirania da sua irmã, a Rainha de Copas, que roubou a sua espada e a sua coroa.

Rainha Branca
O simbolismo da coroa, no sentido mais amplo e profundo, é a idéia da superação, cujo fator decisivo é a vitória do princípio superior (espírito) sobre os instintos.
A espada, o seu sentido primário, é um símbolo simultâneo da ferida e do poder de ferir e por isso um signo de liberdade e de força.
Alice vai precisar desta espada que simboliza o discernimento, a coragem e a determinação, qualidades essenciais para combater o seu monstro interno.


Alice 



Alice necessita de força para superar seus instintos primitivos que são representados pelos monstros. Os monstros no sonho dela representam também os seus aspectos psíquicos ou conflitos não elaborados. O reencontro com estas criaturas, simbolicamente é o reencontro consigo mesma e seus monstros internos que precisam enfrentados para crescer.
Todos nós temos nossos próprios monstros e de alguns temos medo e preferimos negar a sua existência. Estas criaturas que habitam dentro de nós representam nossas fantasias no nosso psiquismo e por meio dos sonhos, temos a chance de confrontá-los, o que pode ser doloroso, mas o resultado é benéfico.

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