quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Entre a alienação e a ideologização

Por definição, as coisas possuem, entre diversas nuances, pelo menos dois extremos. Quando o assunto é economia, há os neoliberais e os estatizantes; entre eles há opiniões heterogêneas. Quando se fala em aborto, há os que o consideram terminantemente proibido, enquanto há outros que consideram um direito da mulher; entre eles, há os permitem em alguns casos. Mas e quando se fala em ser politizado?
Não me refiro à orientação política, pois não vim aqui para discutir os conflitos entre direita e esquerda, em seu sentido mais geral. Ao meu ver, existem dois extremos entre o modo de encarar os fatos, especialmente os de caráter político, social e, como um todo, coletivos. Encarar atitudes individuais que dizem respeito somente a si mesmo é fácil, isto todo mundo sabe fazer. Difícil é encarar uma discussão de temas que envolvam todos ao nosso redor.
De um lado extremo, o lado dos não politizados, há a alienação. Ser alienado é não dar importância para o que acontece no mundo que vá além do seu próprio umbigo. Ser alienado é achar que as coisas foram sempre assim e sempre serão, ou que as coisas mudam sozinhas. Alienação é abrir mão de um universo de coisas porque estas parecem difíceis demais para se entender.
Não dar ouvidos a quem tem o que dizer faz parte de ser alienado, porque ao se deslegitimizar o discurso de alguém por algum preconceito que for, se está, na verdade, fugindo do debate. Essa é a maior covardia deste extremo.
Por outro lado, há o extremo dos politizados, aqueles que chegam a ponto da ideologização. Ideologia, como há muito venho falando neste blog, é algo prejudicial. O seu defeito é justamente reduzir a realidade a algumas explicações que, teoricamente, deveriam se enquadrar no modelo ideologizado de enxergar os fatos.
Porque nem tudo é tão simplista quanto a ideologia parece assumir. De um modo geral, as ideologias são dotadas de condutas e idéias para se ter. Nesta complexidade em que vivemos, onde só existem opiniões relativas, a virtude estaria na flexibilidade de lidar com estas opiniões. A ideologia não compreende isto, e continua a despejar ideais pré-fabricados que tendem a se enquadrar mal com o passar do tempo.
Entre a alienação e a ideologização está a essência daquilo que é ser politizado. Porque ser politizado é isto, é não se entregar totalmente ao seu mundinho, como também não é partir para “fórmulas politizadoras”. Ser politizado é entender por vários pontos de vista, e saber defender o seu com argumentos concretos, as diversas peças que compõem nosso mosaico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário